12 de julho de 2017

cartas I

























és o meu tom sawyer que vacila entre viver numa aldeia a pastar gado no monte e correr intercalando pinos, rodas e cambalhotas amparado na palha amortecedora. terias sempre um pé enfiado na terra, uma mão num lápis e outra na tesoura e o corpo balançado numas argolas desde que o júri estivesse riscado do teu mapa mental. mas se a terra te atrai ela também parece disputar lugar com o raciocínio lógico porque te estimula também a ginástica mental e queres ser tão completo que te exiges o infinito. andamos a exercitar-te a desaceleração e a fazer-te relaxar essa tua sede em descobrir as proporções perfeitas das colunas gregas que constróis cada dia em ti. ciência, terra, zoologia, matemática, geografia, biologia, arte, agarras quase tudo com sede e só te questionas porque raio tens de saber que os adjectivos, os verbos e todas as variações de pronomes que já usas têm de ter um nome. Este ano voltaste a montar o teu cavalo seguro mas soltaste-lhe as rédeas, deste-lhe com os calcanhares e lançaste-te feroz nesse teu regresso quase a querer voar em vez de cavalgar. lançaste-te sôfrego a querer agarrar tudo com unhas e dentes e um dia o ar pareceu pouco para aspirar tudo em tua volta. tens o teu computador tão cheio que nalguns dias tivemos de te massajar com muita força os pés, flecti-los com intensidade a fazer esticar todos os tendões ao máximo até conectarem todas as extremidades a te voltarem a ligar-te entre a terra e o céu. tens um exercício novo entregue: focar-te na contagem dos meninos que têm mochila azul na escola. contas-me coisas com delays prolongados que denunciam a velocidade e ao mesmo o alcance da tua maturação e nos surpreendem. vais moendo devagarinho, guardadas nas tuas gavetas, as tuas vivências. estamos aqui para te ajudar a arrumá-las. vai com calma meu tom sawyer. 

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eu vista por mim

eu vista por mim
novembro1982